VOCÊ FEZ QUESTÃO
DE DOBRAR O MAPA
DE MODO QUE NOSSAS CIDADES
DISTANTES UMA DA OUTRA
EXATOS 1720KM
FIZESSEM SUBITAMENTE
FRONTEIRA
Ana Martins Marques,
em O livro das semelhanças
Imaginar o arquivo como um território e um horizonte em permanente constituição. Uma constelação de imagens e zonas desconhecidas, de pontos distantes a serem aproximados e de noites em espera, até que o olhar encontre a linha entre montanha e céu.
Um artista depois do outro, um viajante depois do outro. Se não houve uma data para compartilhar uma existência, a coordenada aponta um lugar sonhado: algo fica de nós em uma paisagem. Assim se fabrica um encontro impossível.
Ao longo de 10 anos, um arquivo de mais de 800 documentos foi construído – um lugar habitado, e de onde parti para tentar encontrar César Papa, o tio-avô e artista que não conheci.
Estar em viagem é saber que o mistério de um encontro não é entregue a quem procura, mas a quem aceita ser conduzido pelos acontecimentos. A viagem segue. Daqui, do trem em movimento, este é o relato do que tenho vivido. Escrevo em três dimensões: o que se lê agora teve início ao mesmo tempo há 22 anos, quando me contaram sobre César; há 71 anos, quando sua existência se deu neste mundo; há 40 anos, quando a primeira carta foi guardada; e também há 5 anos, quando cheguei aos Estados Unidos. Acenos entre décadas tecem um tempo para existirmos juntos.